Experiência única: Camila Zanco – médica e paciente de oncologia

Camila Zanco, Gaúcha, natural de Farroupilha no Rio Grande do Sul, tem 30 anos e atualmente reside em Lajeado. Formada em medicina na cidade de Lages, ela possui uma especialização em medicina interna. No início da pandemia, em meados de 2020, Camila começou sua residência na cidade onde reside.

Conhecida por sua empatia, a médica dedica-se especialmente ao cuidado de seus pacientes, com um carinho especial pelos idosos. Atualmente faz especialização em Oncologia R2. O que torna a experiência de Camila única é que, por força das circunstâncias, ela vivenciar os dois lados da moeda: como médica, ela atende pacientes oncológicos, e como paciente de causa semelhante.

 

Diagnóstico

Desde pequena, Camila Zanco sempre enfrentou problemas de visão, com frequentes consultas ao oftalmologista e utilizando óculos desde muito jovem. Em 2020, em plena pandemia, recém-ingressada na residência de Medicina Interna, Camila teve dificuldades para retornar ao médico oftalmologista para exames de rotina devido à escassez de tempo.

Quando a onda da Covid-19 começou a diminuir, ela finalmente conseguiu marcar uma consulta. No dia em que decidiu ir ao oftalmologista, preocupava-se com a eficácia de seus óculos de grau. Durante a consulta, o médico fez algumas perguntas sobre procedimentos cirúrgicos anteriores, o que despertou a atenção de Camila. Uma semana após a consulta, o médico a chamou para uma conversa, onde apresentou os resultados de seus exames e lhe disse: “Camila, você tem uma ‘manchinha’, um nevo” no olho.

“O nevo ocular é uma mancha na parte interna do olho que, geralmente, não causa problemas, mas, em casos raros, pode evoluir para câncer ocular, como o melanoma, um tipo de câncer que afeta os melanócitos, células que dão cor aos olhos. Camila achou estranho que o médico a chamasse apenas para mostrar uma foto de uma mancha, mas logo foi informada de que o nevo poderia malignizar”

Naquele momento, o mundo de Camila desmoronou. Como assim? Ela se perguntava: “Por que eu?” Com apenas 26 anos, médica em atividade, e enfrentando a pandemia, encontrar-se na posição de paciente com câncer era uma realidade difícil de aceitar. Ela, que havia escolhido a profissão para atender e salvar vidas de pessoas com câncer, agora se via diante de sua própria batalha contra a doença.

A partir daquele dia, o médico de Camila a encaminhou para um especialista em Porto Alegre, com o objetivo de confirmar o diagnóstico de melanoma ocular e, consequentemente, direcioná-la para o início do tratamento em São Paulo. Após a confirmação do melanoma ocular, o médico explicou que essa forma de melanoma não é tão agressiva quanto o melanoma de pele e que há tratamentos específicos disponíveis para a condição. Ele ressaltou que apenas 5% da população apresenta essa doença a cada milhão de habitantes, com uma taxa de cura de 85%, o que trouxe tranquilidade a Camila.

Embora fosse médica, ela não tinha recebido informações sobre sua doença até aquele momento. Ao chegar em casa, decidiu pesquisar exaustivamente em diversas fontes sobre o melanoma ocular, buscando entender melhor sua condição e as possibilidades de tratamento.

 

Tratamento

Ao chegar em São Paulo, Camila visitou três médicos. Um deles lhe deu uma notícia devastadora, afirmando que ela tinha menos de uma semana de vida devido às metástases que comprometeriam sua saúde, considerando a gravidade do problema. Camila chorou copiosamente por 24 horas, mergulhando em um abismo de angústia e desespero.
Na visita ao terceiro médico, no entanto, Camila encontrou um raio de esperança. O médico, embora não pudesse garantir que ela manteria a visão, assegurou a ela que faria tudo o que estivesse ao seu alcance para salvá-la daquela situação. Foi nesse momento que Camila sentiu-se abraçada e experimentou um renascimento das esperanças.
O tratamento começou, e suas idas e vindas entre a cidade de Lajeado e São Paulo eram frequentemente acompanhadas por sua incansável e amável mãe, assim como por sua irmã Danielle. Camila não conseguia conter a emoção ao falar sobre o quanto havia se sentido acolhida fraternalmente pela empatia de sua irmã. Ela ressaltou também a importância de sua família nesse processo tão desafiador, mencionando que seu pai entrou em depressão ao não acreditar que sua primogênita, tão jovem, estivesse passando por uma situação tão difícil. A união familiar se tornava um pilar essencial para enfrentar os desafios que estavam por vir.

 

Profissional e paciente

Camila trabalha no Hospital Bruno Born, em Lajeado, uma instituição que acolhe todo o Vale do Taquari. Ela escolheu dedicar-se à oncologia e está na conclusão de sua especialização Oncológica. No decorrer dos dias, alternando entre a rotina de trabalho e a vida como paciente, Camila se convenceu de que havia escolhido a profissão certa.

Agora, vivendo a experiência de ser paciente, ela compreendeu a importância de um atendimento humano ao receber alguém que enfrenta problemas de saúde. A médica aprendeu a maneira adequada de comunicar-se com seus pacientes, como abordar e tratar situações delicadas como o desafio de dar uma notícia difícil, assim como a necessidade de ter empatia pela dor do outro.

Com a vivência ela se tornou mais consciente sobre como abordar seus pacientes em momentos complicados, oferecendo palavras de conforto e um abraço que transmite solidariedade e compreensão nas horas mais difíceis. O processo fortaleceu sua vocação e ampliou sua habilidade de ser não apenas uma médica, mas também uma fonte de apoio emocional para aqueles que atravessam lutas similares.

 

Reflexão

Camila deseja compartilhar uma mensagem importante com todos ao seu redor. Ela enfatiza a importância de aproveitar cada dia, de amar as pessoas que estão próximas. Além disso, acredita que não é necessário receber um diagnóstico de câncer para aprender a valorizar e amar o próximo.

Ela aprendeu essa lição com uma amiga próxima, que lhe disse que abrir mão da culpa e aceitar cada situação como um propósito maior de Deus é o primeiro passo para a libertação e o início do processo de cura. Ao invés de se perguntar “Por que comigo? Por que eu?”, Camila passou a refletir: “Por que não eu, que tenho uma família para me apoiar? Por que não eu, que tenho uma vida profissional que pode servir de exemplo de coragem?”

A partir desse dia, Camila sentiu como se tivesse tirado uma “mochila pesada das costas”. Ela decidiu se dedicar ao seu tratamento com carinho e amor, inundada de gratidão pelos amigos, pacientes e familiares que a abraçam a todo momento. Essa nova perspectiva a fortaleceu, permitindo-lhe enfrentar cada desafio com esperança e determinação.

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