
Como arquiteta e urbanista, convido vocês, leitores, a refletirem sobre, como retardar a produção capitalista dos espaços urbanos que dividem a população e mostra que existe esperança para os habitantes locais por meio da implantação da Agenda 2030 nas áreas turísticas da avenida das Rendeiras, uma das principais rotas turísticas de Florianópolis, e que depende de um olhar maduro e contemplativo do poder público e dos cidadãos.
Como iremos evitar que aconteça o processo de gentrificação que anda permeando as áreas gastronômicas da av. Das Rendeiras? A gentrificação está ficando cada vez mais forte em capitais que têm áreas paradisíacas, como a capital, Florianópolis, e aqui ocorrem destruições do patrimônio histórico, cultural, de ordem material e imaterial, além das bases mais sólidas, que é a origem dos povos nativos.
Dos aspectos negativos do processo de gentrificação, destaca-se a forma com que se dá a conotação de espetáculo ao que é chamado de “revitalização”. As paisagens urbanas em determinados bairros da cidade que garantem novas funções aos edifícios e espaços (refuncionalizando), o que atrai um novo perfil de moradores e investidores e provoca alteração no custo de vida nessas áreas, tornando-as seu perfil de consumidor mais elevado.
Peço a todos… Vamos iniciar o dia 1° de janeiro do ano de 2024 fazendo uma reflexão sobre como agir com responsabilidade social e ambiental, como escolher atitudes de cooperativismo, equidade, humanismo e resiliência, para atuarmos como uma grande família e, principalmente, como agentes fiscais de nossas cidades, para não expulsarmos os verdadeiros nativos e para não apagarmos a história patrimonial daqui.
A famosa av. das Rendeiras fica na beira a Lagoa da Conceição. É uma das principais vias do distrito da Lagoa da Conceição. Liga o Centrinho ao Retiro da Lagoa, sendo o principal acesso às praias do Leste da Ilha de Santa Catarina.
Por que leva esse nome de Rendeiras?
É conhecida assim devido às mulheres rendeiras, nativas dali, que viviam escrevendo a história da cultura local com seu artesanato. Ainda existem casinhas de madeira com rendeiras nativas, expondo seu trabalho artesanal e suas rendas de bilros, apesar de a atividade estar sendo reduzida e vista como uma prática extinta.
A movimentada via faz limites e contorno com as dunas da Joaquina. Possui forte comércio local, práticas esportivas como: stand up paddle, caiaque, canoagem, canoa – havaiana, kitsurf, windsurf, parapente e sabdboar.
Durante o dia, é um bom lugar para praticar uma caminhada ou corrida, entre outras atividades aquáticas que você encontra para alugar na beira da lagoa. Na avenida, você pode encontrar também algumas pousadas e campings. No fim de tarde, pode rolar um piquenique na beira da lagoa com toda a beleza da paisagem de pano de fundo da Lagoa da Conceição. Fica no caminho do Centrinho da lagoa e leva em direção às praias Mole e Joaquina.
Essa avenida se destaca pela paisagem, e também porque é repleta de bares e restaurantes. A noite é bem badalada, pois existem várias casas noturnas. Se avaliarmos bem, estamos vivendo o processo de gentrificação nesse bairro, pois nota-se a transformação urbana que “expulsa” moradores de bairros periféricos e transformam essas regiões em áreas mais nobres. Vemos que a especulação imobiliária, o turismo e obras governamentais as responsáveis por esse fenômeno de segregação.
Observamos que, após às reformas da av. Das Rendeiras, que utilizam o projeto do Novo Binário com implantação de nova mobilidade urbana, prejudicou os comerciantes e atividades. Eles perderam um público que equivale a 90% de turismo. Com esses dados, é possível diagnosticar que o comércio está fadado ao declínio e fechamento de portas, pois perderam o fluxo e a vitrine que era ofertada ao seu público, eles ficaram desconectados e abandonados.
Como podemos voltar a valorizar a gastronomia, ecoturismo, esportes e o artesanato desses espaços que são um marco cultural e fazem parte da história de Florianópolis? Utilizando-se de atrações como “economia criativa” e a “economia colaborativa”, vamos desconstruir corretamente e politicamente, esse evento que descortina ações de “reutilização” da “cultura local” e do espaço, que devem ser examinados por um viés social, e não só superficial. É possível promovermos mais ações sociais e colaborativas entre a sociedade civil, os restaurantes e o poder público, para valorizar o turismo responsivo e ecológico.
E, analisando a realidade brasileira, na qual a intensa urbanização intensificou as desigualdades sociais e a concentração de renda, a questão urbana continua latente, notamos que o planejamento e a gestão urbana precisam ser encarados com ações políticas que envolvem a Agenda 2030, e que tratam cada Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS), como ideal econômico que permeiam o crescimento contínuo do público e, para isso, escolhemos os ODS 8 – Trabalho decente e Crescimento Econômico; ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis; ODS 16 – Paz Justiça e Instituições Eficazes; e o ODS 17 – Parcerias Meios e de Implementação, nas quais os sujeitos, em especial a classe trabalhadora, precisam incidir diretamente para alcançar um novo modelo de sociaciabilidade urbana justa e igualitária.
É cabível resgatar a história patrimonial da av. Das Rendeiras, que envolve cuidados com áreas turísticas, gastronômica e, com proteção ambiental, garante papel do “direito do cidadão ” como ação reguladora das legalidades e ilegalidades nas cidades. E afirmar que o direito está constantemente em disputa, pois será a correlação de força das classes sociais e o real impulsionador das transformações sociais que a população local necessita.
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