Moradores da região da Ilha denunciam abandono do poder público

 

Sede do Samu fica no Mar Grosso, mas, em virtude da necessidade de travessia na balsa, que na alta temporada fica ainda mais demorada, os moradores da Ilha ficam à mercê do atendimento de emergência das ambulâncias. Os postos de saúde da região também não funcionam em horário estendido ou nos fins de semana ou feriados. Bombeiros também alertam dificuldades em chegar à região. Fotos: Banco de imagens Sul SC

O atendimento de saúde é um direito de todos. Tal ato é garantido pela Constituição Federal do Brasil de 1988, a qual reconhece a saúde como um direito fundamental. Neste processo, está inserido também a assistência emergencial, porém, em algumas cidades há certa dificuldade para que os munícipes disponham do serviço.

Em Laguna, por exemplo, alguns casos negativos são recorrentes devido ao difícil acesso à região da Ilha. Três casos chegaram como denúncias à Redação do Sul SC por moradores, todos referentes a ocorrências de trânsito em que se fazia necessário atendimento emergencial. Além disso, o difícil acesso (dependendo apenas das arcaicas balsas dispostas), os cidadãos da Ponta da Barra, Passagem da Barra, Tereza, Ipuã, Galheta, Campos Verdes, Cigana, Cardoso, Farol e tantas outras localidades desta região do município, podem ficar até por dias sem este tipo de auxílio em virtude dos feriados e pontos facultativos.

A comerciante Stela Maris de Oliveira Santos conta que na região não é disponibilizado nenhum serviço 24 horas de saúde, nem ao menos um local com horário estendido. “Já protocolamos ofício pedindo que colocassem uma UPA ou que ampliassem o período de atendimento do posto de saúde, mas nem obtivemos resposta. Não há interesse nenhum do poder público em aplicar essas melhorias para nós”, lamenta.

Acresce a isso o problema da balsa, embora priorize a passagem da ambulância, o tempo de ir e voltar dificulta o processo. “Muitas vezes, o Samu chega na balsa e fica parado esperando a embarcação para a travessia da lagoa, e este tempo pode ser decisivo dependendo do estado de saúde do paciente”, alerta Stela.

Outro agravante é a questão dos feriados prolongados. Eles interrompem os atendimentos nos postos de saúde e deixam a população à mercê. “O problema dos feriadões é que o posto fecha. Um exemplo é quando cai em uma quinta-feira, os serviços são encerrados na quarta e retornam apenas na segunda. Isso quer dizer que não podemos ficar doentes neste período, quem dirá ocorrer um acidente”, complementa a moradora.

Com a chegada do verão, os entraves são ainda maiores devido à elevação do número de pessoas na região, consequentemente, a de ocorrências também. “Se acontece algo, como um acidente doméstico ou de trânsito, como o postinho fica fechado nos fins de semana e à noite, dependemos da balsa para atravessar. Muitas vezes, deixamos de resolver algo que poderia ser solucionado de forma rápida”, sugere Stela Maris.

Atendimentos
De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar de Laguna, o serviço é prestado até a ponte do Camacho, depois, o atendimento fica sob responsabilidade de Tubarão ou dos Bombeiros Voluntários de Jaguaruna.

Os serviços prestados na região da Ilha são executados somente por meio da balsa, apenas quando o trajeto está indisponível a viatura segue por Tubarão ou Jaguaruna, o que acrescenta dezenas de quilômetros a mais. Vale ressaltar que, do quartel de Laguna até a balsa, o tempo médio é de dez minutos, mais o deslocamento da balsa e o ponto de resgate.

No mês de setembro, em Laguna, foram 129 casos de atendimento pré-hospitalar, sete de incêndio, três de salvamento busca e resgate, além de cinco de auxílios-apoio, realizados pelos bombeiros, destes, só na região da Ilha foram cinco. Porém, no período de temporada, entre dezembro e fevereiro, o número chega a 25, ou seja, 250% a mais por mês.

Casos de demora
O secretário da Associação dos Moradores da Santa Marta Pequena, José Teixeira Henrique, conta que episódios recentes como o do motociclista, que aguardou por atendimento por cerca de duas horas, não são tão incomuns. Alguns pedidos foram protocolados e enviados ao poder público, porém, não houve retorno. “Estamos com diversas necessidades e contamos ainda com o descaso da prefeitura, porque procedemos da forma correta, protocolar e eles não fazem nada. Enquanto isso, a situação só piora”, desabafa o secretário.

O motociclista em questão sofreu uma queda e teve suspeita de fratura da clavícula. Imediatamente, as pessoas que estavam ali acionaram o Samu. “Os moradores fizeram a demarcação do local com cadeiras, tijolos, pedras, tudo e qualquer objeto que os carros pudessem visualizar para evitar um novo atropelamento. Houve até uma senhora que levou um guarda-sol e colocou sobre o acidentado, pois estava sob sol forte e o asfalto queimava o seu corpo”, recorda Henrique.

Outro episódio denunciado por José já tem mais tempo. Trata-se de um acidente com morte. Na ocasião, o filho de um morador bateu o carro contra um muro e teve morte instantânea. “Nessa situação, a demora foi para recolher o corpo do jovem. Ele ficou das 7h ao meio-dia esperando o Samu e o IML. O pai do rapaz ficou lá assistindo a cena e aguardando”, desabafa.

Depois, houve outro ocorrido, desta vez com um senhor de 70 anos. Ele estava de moto e foi atropelado por volta das 19h, o Samu, que parece não funcionar direito no município, levou um tempão para chegar ao local, cerca de uma hora e meia. Vale apontar que o gargalo se constitui na balsa, que é o nosso atraso de vida”, reforça.

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