Quando uma criança de 4, 5, 6 anos vê um parquinho de uma escola, os chamados playgrounds, a poucos metros de distância, no local onde estuda, e simplesmente é impedida de se divertir porque os brinquedos estão literalmente sobre um banhado de mato alto e uma lâmina de quase meio metro de água, além, claro, de ser lar perfeito de animais peçonhentos ou perigosos, como aranhas e cobras que devem viver no mesmo espaço que crianças e adolescentes na Escola Municipal Comandante Moreira, na comunidade de Campos Verdes, na região da Ilha, em Laguna.
Quando há uma biblioteca, de nome Professora Lourena M. Gordo, que está viva, lecionou naquela instituição de ensino por anos, recebeu homenagem batizando um espaço tão relevante dentro da unidade educacional, e hoje mora do outro lado da rua do ponto que pode ir abaixo a qualquer momento, devido a uma gravíssima infiltração que formou uma piscina no forro da laje – que é telhada -, a qual está apodrecendo aos poucos por falta de manutenção.
São tantos quandos… Banheiros com mictórios interditados, goteiras sobre praticamente todo forro também neste ponto, e que passam por fiação elétrica. Até as lâmpadas dos sanitários parecem chorar. Tem mofo nas paredes e forros de várias salas, inclusive na da direção. O risco de curto-circuito e, consequentemente, de uma tragédia, é iminente.
Resto de materiais e que viraram entulhos no ‘aguardo’ de um simples gesto, a contratação de caçambas de tele-entulhos. Mato alto no entorno, o que, lógico, ajuda à propagação de pragas, como ratos, ratazanas, aranhas e outros animais…
Soluções pausadas no tempo
Os quandos viram os porquês. Por que já não aterraram a região do parquinho das crianças para que não alague mais, por que não roçam o mato alto, por que não tiram os entulhos, porque não tem goleiras ou redes na quadra de futebol – que tem mato também -, e o pior dos porquês: Por que deixaram a biblioteca e os banheiros das crianças chegarem nesta situação, de risco de morte?
Bastidores da notícia
Enquanto jornalistas, passamos por muitos locais atrás dos fatos, para que possamos reportar a informação de maneira fidedigna ao público. Em 23 anos de profissão e mais de 120 mil matérias em coberturas realizadas nas 45 cidades do Sul de Santa Catarina, em Florianópolis e Curitiba, jamais vi uma escola tão insalubre e abandonada por um sistema. Este sistema, no caso, é a atual gestão da prefeitura de Laguna, responsável direta pela escola.
São apenas dez quilômetros de distância que separam o gabinete do prefeito Samir Ahmad do portão da escola, que já apresenta a necessidade de troca da fechadura, pois houve dificuldade em abri-lo quando lá estive nesta quarta-feira (6) de sol forte, calor abundante e poucas salas climatizadas para os 87 estudantes, 23 professores, cinco serviços gerais, três profissionais do setor administrativo e duas estagiárias.
Esta reportagem especial traz a entonação dupla de primeira e terceira pessoa para que o entendimento seja direto e as providências possam ser tomadas o mais breve possível. Aí podem vir com desculpas… “Ah, mas agora é fim de ano, as atividades na escola entrarão em recesso, os prestadores de serviços (para que a série de obras e melhorias que lá precisam) também não atuam nesta época do ano…”. Mas o que está acontecendo na Comandante Moreira – que deve estar triste agora (onde estiver) por ter seu nome ligado à instituição, é negligência. Isto é um fato. Não há tempo a se perder, afinal, é um espaço onde o caráter é formado, a cidadania é aplicada e o ensino é compartilhado.
Muitos detalhes foram notados, anotados e agora são reportados após vistoria feita pela equipe do Sul SC neste ambiente público, e a imprensa tem esta obrigação também, pois pode atuar como órgão fiscalizador e denunciante, justamente para que o protocolo, a salubridade das coisas e o bem-estar da sociedade possam fluir de acordo nesses espaços físicos, afinal, quem paga esta conta da manutenção é o povo, é o lagunense, o brasileiro.
Visão da comunidade
A diretora, Andrea Damiani Fidélix André, que mora na localidade e é mãe de uma estudante de 6 anos, tenta aplicar as melhorias dentro das suas limitações administrativas, conta que todas as medidas necessárias sobre os problemas em curso do prédio já foram comunicadas à gestão, conforme regem os protocolos. “Eles estiveram aqui nesta terça (6). Isolamos a sala onde está o maior transtorno. Esperamos soluções, é o que nos resta. O que estava ao nosso alcance já foi feito, como adequar outro espaço – provisório – à biblioteca”, informa Andréa.
“O atual imóvel foi construído em 2011 e inaugurado em 2012. Desde então, ou seja, em 12 anos não houve qualquer tipo de manutenção”, aponta uma professora que está há mais de duas décadas na unidade de Campos Verdes.
Uma moradora das proximidades e mãe de um aluno afirma que as comunidades da Ilha estão abandonadas pela esfera pública, seja ela qual for. Tudo é mais demorado por aqui”, lamenta.
Soluções que levam tempo
Uma comitiva liderada pelo secretário municipal de Educação, Carlos Felipe Schmidt, o Tixa, e mais dois engenheiros civis da Secretaria de Planejamento Urbano de Laguna, estiveram na escola há dois dias e fizeram um levantamento inicial dos estragos. “Será feito um projeto, a licitação e a contratação. Ainda não há definição se teremos que demolir a laje atual nesses pontos críticos e construir outra, ou reformar a estrutura vigente. Em pouco mais de 20 dias que assumi o cargo, já estive nesta escola por quatro oportunidades. Sabemos que são situações delicadas, no entanto, a área mais afetada já foi isolada e não há riscos aos estudantes ou funcionários”, garante Tixa. Os banheiros não foram isolados e todos têm acesso livre.
História
Fundada em 1910, ou seja, com 113 anos, a Escola Municipal Comandante Moreira, de Campos Verdes, na região da Ilha, é uma das mais antigas do Sul do Estado. A escola chegou a atender mais de 200 estudantes, mas hoje tem menos de 90 do maternal ao 9º ano, alguns de comunidades vizinhas, como Cigana.
No início, a escola funcionava nas residências de moradores, na década de 1950, foi construída uma pequena sala, onde o antigo nome, Escola Municipal da Carniça, foi substituído por Comandante Moreira, um navegador que transportava passageiros no navio Max, entre Laguna, Florianópolis e Itajaí.
Em 1976, foi feita a primeira reforma, depois outra em 2003, uma ampliação em 2008 e a última intervenção, a reforma de 2011.