‘Cápsula do tempo’ é encontrada em Morro da Fumaça e revela história surpreendente

Carta histórica estava em garrafa entre o telhado e o forro de estação ferroviária de Morro da Fumaça (Fotos: Daiana Carvalho/Sul SC)

Morro da Fumaça vive um momento singular em sua história. Na mesma semana, dois registros históricos foram encontrados na cidade. O primeiro deles ocorreu na última terça-feira (16), durante as intervenções no edifício da Câmara de Vereadores, que está passando por reformas, assim como o prédio da prefeitura. No local, um dos trabalhadores descobriu uma carta assinada pelo ex-prefeito Jorge Silva, datada de 1969, encontrada entre a parede e o degrau do plenário da Casa.

O segundo achado foi identificado na última sexta-feira (19) por meio de uma moradora da cidade. Ela compartilhou, por meio das redes sociais, uma história relatada por seu avô pouco antes de falecer. “A última vez que estive com ele, o vô falou que havia deixado uma garrafa, com uma carta, no forro da antiga estação do agente ferroviário, onde viveu por mais de 25 anos. Já tentamos achar em outras situações, mas nunca conseguimos; pensamos que agora talvez pudesse dar certo”, detalhou Cessonia Cândido.

Em uma rápida verificação realizada pela equipe de infraestrutura do município, a ‘cápsula do tempo’ foi encontrada. “Assim que recebemos a ordem do gabinete, deslocamo-nos até o local e, para a nossa felicidade, a garrafa estava lá, próximo ao telhado”, compartilhou o secretário de Infraestrutura, Natan Felipe Souza.

O prefeito Agenor Coral, acompanhado do vice, Eduardo Guollo, acompanhou o momento da retirada do elemento histórico. “Foi uma rica surpresa. O documento é datado de 1960, tem mais de 60 anos, e resgata o legado de um homem que teve uma importante participação no desenvolvimento de nossa cidade, mas que até então não recebeu o devido reconhecimento”, afirmou Noi Coral.

Estação ferroviária onde estava escondida a garrafa

Escrita pelo então agente ferroviário e telegrafista José Cândido, a carta resgata o nome dos integrantes da equipe que atuava junto à ferrovia naquele período. “Estamos muito felizes com essa descoberta, pois até então, o vô era um perfeito desconhecido, e agora a história dele passa a ser notada na cidade”, destacou Márcia Regina Cândido Otto Adam, outra das netas de Cândido.

Local exato onde esta a garrafa com a carta

Filho de uma das primeiras parteiras de Morro da Fumaça, Custódia Cândido Davi, e do agricultor Cândido Davi, José Cândido, por um erro de cartório, não herdou o sobrenome do pai. Essa ascendência batiza diversas ruas do bairro Jussara. Devido ao trabalho desempenhado junto à ferrovia desde os 14 anos, foi proprietário do primeiro carro adquirido na cidade. O veículo, mais tarde, após a morte de Custódia, serviu como alternativa para o transporte das gestantes, que precisavam se deslocar para Urussanga e Criciúma para dar à luz aos filhos.

“Temos em nossas mãos uma parte da história do município e de um cidadão fumacense. Este documento receberá o devido tratamento de restauração e preservação e ficará à disposição da população. Nosso objetivo, a longo prazo, é promover um amplo resgate da história da cidade e dos principais prédios ligados à linha férrea”, esclareceu o vice-prefeito.

A estação do agente ferroviário, datada de 1925, completará 100 anos de construção no próximo ano. O edifício é um dos quatro prédios ligados à linha férrea que a prefeitura almeja realizar um trabalho de preservação. “Estamos vivendo um momento muito feliz em nossa história. Por muitos anos, essa riqueza ficou em segundo plano, mas agora podemos fazer esse resgate. No Centro Cultural, estamos recebendo diversos itens que, em breve, serão destacados em um museu”, relatou Rosângela Pagnan Maragno, conhecida como Danda, atual diretora do Departamento de Cultura de Morro da Fumaça.

A terra onde os índios colocavam fogo e destacavam os morros com fumaça, descrita por José Cândido às netas, foi sua morada até meados de 1960, quando se mudou para Criciúma. Em 1969, em busca de uma vida mais tranquila, foi morar próximo a uma das filhas, em Curitiba, no Paraná. Ainda na década de 60, o telegrafista também ganhou notoriedade durante o movimento getulista, na era Getúlio Vargas, e chegou a ser alocado em Tubarão, por um curto período em que trabalhou sob supervisão, até ser considerado não subversivo.

O agente ferroviário é um dos quatro filhos da família Davi, um dos muitos sobrenomes que fizeram de Morro da Fumaça um município promissor. Ao lado da esposa, Cessonia Cândido, teve dez filhos. José faleceu em 1997, na capital paranaense.

José Cândido com um dos seus dez filhos

Transcrição literal do relato histórico:
“Esta Estação foi inaugurada dia 6 de janeiro de 1925.
1º Agente, Joaquim Branco de Mello, praticante do telégrafo, José Cândido.
2º Agente, Pedro Firmino de Sousa
3º Agente, Demostin de Sousa Siqueira.
4º Agente, Santos Salvato Bitencourt.
5º Agente, José Cândido.
Até 1960
A todos que aqui permanecer nesta função, meus votos de felicidade!
M. da Fumaça, 30/6/1960

Prefeito e vice no local da descoberta histórica

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