Escanteados pelo Ocidente, Rússia, Irã e Coreia do Norte reforçam laços mútuos. Os países passaram a se tornar parceiros cada vez mais relevantes para a Rússia em meio à necessidade de reabastecer o estoque de suprimentos militares.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, teve que recorrer ao Irã e à Coreia do Norte para manter o avanço na guerra contra a Ucrânia, destacando a necessidade de reabastecer o estoque de suprimentos militares para continuar os conflitos em Kiev. Assim, os países passaram a se tornar parceiros cada vez mais relevantes para a Rússia.
O líder norte-coreano Kim Jong-un marcou presença em Moscou, com direito a visita a fábricas responsáveis pela produção de caças e a instalações da Marinha russa. A Rússia depende da Coreia do Norte e do Irã para manter avanços na guerra contra a Ucrânia.
Os países passaram a se tornar parceiros cada vez mais relevantes para a Rússia em meio à necessidade russa primordial de reabastecer o estoque de suprimentos militares. Após a visita do ditador norte-coreano, o suprimento de tropas russas na Ucrânia passou a contar com trens carregados de projéteis de artilharia norte-coreana, que poderiam chegar a um milhão de bombas e munições, conforme estimativas da inteligência norte-americana.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a Coreia do Norte é o “vizinho e parceiro mais próximo da Rússia”, com o qual o país liderado por Putin está desenvolvendo “parcerias em todas as áreas”. Após a ida de Kim Jong-un à Rússia, o primeiro-ministro norte-coreano, Kim Tok Hun, se encontrou com o ministro dos Recursos Naturais da Rússia, Alexander Kozlov, em Pyongyang na primeira reunião desde 2019. No encontro, os países alcançaram um acordo provisório para explorar e extrair recursos naturais juntos, incluindo minério de ferro.
Já o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, visitou a Rússia em dezembro para se encontrar com Putin após o chefe russo visitar países do Oriente Médio durante o ano. Convém destacar que munições e drones iranianos também foram identificados no estoque militar russo. O presidente do Irã deseja a entrega de aeronaves russas sofisticadas e defesas aéreas que seriam capazes de tornar o país muito mais protegido contra eventuais ações ofensivas dos EUA ou de Israel.
Para os Estados Unidos, atualmente existe uma coalizão formada pela China, Rússia, Irã e Coreia do Norte, batizada de “CRINKS”.
Segundo as autoridades norte-americanas, os países têm alinhado cada vez mais suas posições — não apenas na Ucrânia, mas em outras crises que os colocam contra os EUA, como a guerra no Oriente Médio entre Israel e Hamas. Moscou precisa desesperadamente de armas, especificamente munições e cartuchos de artilharia, para a guerra na Ucrânia, e Pyongyang tem esses itens em abundância. Por outro lado, a Coreia do Norte, golpeada por sanções, precisa desesperadamente de dinheiro e comida.
Mais de três anos de fronteiras fechadas, para não mencionar o fracasso das negociações com os Estados Unidos em 2019, deixaram o país mais isolado do que nunca. Mas, abaixo da superfície, abre-se o potencial para Pyongyang e Moscou começarem a cooperar mais estreitamente.
Os EUA têm alertado sobre um possível acordo de armas entre os dois países há algum tempo, mas uma reunião entre Kim Jong-un e Vladimir Putin dá outra escala a essa movimentação. Embora a prioridade para os EUA, certamente a curto prazo, pareça ser impedir que as armas norte-coreanas cheguem à linha da frente na Ucrânia, a preocupação na Coreia do Sul é sobre o que a Coreia do Norte receberia em troca pela venda de suas armas à Rússia.
Com a Rússia numa situação desconfortável, Kim poderá cobrar um preço alto, podendo exigir maior apoio militar da Rússia. O serviço de inteligência sul-coreano informou que o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, sugeriu que a Rússia, a China e a Coreia do Norte realizassem exercícios navais conjuntos semelhantes aos realizados pelos EUA, Coreia do Sul e Japão.
O mais preocupante que Kim poderia fazer é que Putin lhe forneça tecnologia ou conhecimento de armas avançadas para ajudá-lo a fazer avanços no seu programa de armas nucleares. No entanto, as autoridades em Seul acreditam que a cooperação nesse nível é improvável, pois pode acabar por ser estrategicamente perigosa para a Rússia.
Yang Uk, pesquisador do Instituto Asiático de Estudos Políticos, observou que mesmo que a Rússia não venda armas à Coreia do Norte em troca, ainda poderá financiar o programa nuclear norte-coreano. “Se a Rússia pagar em petróleo e alimentos, poderá reanimar a economia da Coreia do Norte, o que, por sua vez, poderá também fortalecer o sistema de armas da Coreia do Norte. É uma fonte extra de renda para eles.” Yang, especialista em estratégia militar e sistemas de armas, acrescentou: “Durante 15 anos construímos uma rede de sanções contra a Coreia do Norte para impedi-la de desenvolver e comercializar armas de destruição em massa. Agora a Rússia, um membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, poderia colapsar todo esse sistema.”
À medida que as sanções foram aumentando, a Coreia do Norte se tornou cada vez mais dependente da China para lhe fornecer ajuda alimentar. No ano passado, Pequim se recusou a punir a Coreia do Norte pelos seus testes de armas no Conselho de Segurança da ONU, o que permitiu aos norte-coreanos desenvolver seu arsenal nuclear sem consequências graves. A Coreia do Norte proporciona a Pequim um colchão de segurança entre ela e as forças dos EUA estacionadas na Coreia do Sul, o que significa que vale a pena manter Pyongyang em sua órbita. Mas Pyongyang sempre se sentiu desconfortável por depender demais da China. Com a Rússia em busca de aliados, isso dá a Kim a oportunidade de diversificar sua rede de apoio. E com a Rússia tão desesperada, o líder norte-coreano pode sentir que pode obter concessões ainda maiores de Moscou do que de Pequim. Putin poderá concordar em se manter calado frente a um teste nuclear norte-coreano, mas essa aproximação poderá irritar o presidente chinês, Xi Jinping.