Tentativa de Golpe na Bolívia

O presidente da Bolívia, Luis Arce, denunciou nesta quarta-feira (26) uma tentativa de golpe no país, depois de grupos do Exército dominaram a praça em frente ao palácio presidencial e invadiram o edifício. A situação se agravou rapidamente. Tanques foram vistos em frente à sede do governo em La Paz. A ação foi acompanhada pela chegada de centenas de militares, aumentando a tensão na região. Em meio à situação tensa, o general Juan José Zuñiga anunciou publicamente que as forças militares tomariam a sede governo.

 

Quem é Juan José Zúñiga?

Desde 2022, Zúñiga serviu como comandante-chefe do Exército Boliviano. Mas, na segunda-feira (24), o militar fez declarações polêmicas contra o ex-presidente boliviano Evo Morales, dizendo que ele “não pode mais ser presidente deste país”. As declarações custaram seu cargo, já que o governo decidiu demiti-lo na terça-feira (25). Porém, o militar se revoltou contra o Executivo, liderando o levante.

Em entrevista à televisão local, Zuñiga explicou que a ação foi motivada pelo crescente descontentamento e aos problemas que o Estado tem tido com o governo Arce. “Haverá um novo gabinete de ministros. Nosso país, nosso Estado, não pode mais continuar assim, fazendo o que quiser”, declarou o militar.

“Estamos demonstrando nosso desagrado. É dever e obrigação do soldado do país, das suas forças armadas, do seu exército que deu origem a este país, recuperar o país. Pare de destruir e empobrecer nosso país. Vamos assumir o controle da Casa Grande do Povo”, acrescentou o boliviano. Por fim, Zuñiga contestou: “Não pode ser que a lealdade dos comandantes seja paga com deslealdade”.

O presidente boliviano, Luis Arce, então exigiu que o general Juan José Zuniga desmobilizasse os soldados que ocuparam a praça central da capital, o que atraiu forte condenação internacional a uma tentativa de golpe militar. Pessoas também saíram às ruas da Bolívia após o presidente pedir mobilização contra a tentativa de tomada de poder.

Arce nomeou novos chefes das Forças Armadas nesta quarta-feira, e o novo comando militar ordenou que as tropas lideradas pelo general Zuniga retornassem para casa. Soldados e veículos militares do Exército da Bolívia então começaram a deixar as proximidades do palácio presidencial.

Mais tarde, autoridades da Bolívia prenderam o comandante Zuniga, conforme visto por uma testemunha da agência de notícias Reuters.
Por fim, o Ministério Público do país disse que iniciará uma investigação criminal contra o general e outros participantes por liderarem o que o governo e os líderes internacionais condenaram como uma tentativa de golpe.

 

Histórico do presidente Luis Arce

Luis Arce, da Bolívia, tomou posse como presidente em 8 de novembro de 2020, conduzindo o partido socialista do país de volta ao poder, um ano depois do líder esquerdista de longa data, Evo Morales, ter sido alvo de protestos que desencadearam uma crise política.
Arce prometeu “derrotar” a pandemia em um país que tem um dos piores números de mortes per capita, curar as divergências políticas e “pôr fim ao medo” após a violência no ano anterior.

As tensões aumentaram na Bolívia para as eleições gerais de 2025, com o ex-presidente de esquerda Evo Morales planejando concorrer contra o antigo aliado Arce, criando uma grande ruptura no partido socialista no poder e uma incerteza política mais ampla. Muitos não querem o regresso de Morales, que governou entre 2006 e 2019, quando foi derrotado no meio de protestos generalizados e substituído por um governo conservador interino.

 

Países expressaram preocupação

Líderes mundiais expressaram preocupação pela tentativa de golpe de Estado na Bolívia nesta quarta-feira (24). O Ministério das Relações Exteriores do Brasil condenou o episódio “nos mais firmes termos”. O Itamaraty destacou que estará em contato permanente com “as autoridades legítimas bolivianas e com os governos dos demais países da América do Sul” para “rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região”.

O presidente do Chile, Gabriel Boric, manifestou preocupação pelas redes sociais. “Expressamos nosso apoio à democracia no país irmão e ao governo legítimo de Luis Arce”, o líder chileno destacou. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, condenou a situação na Bolívia, enviando solidariedade a Luis Arce. Almagro também destacou que não será tolerada “qualquer violação da ordem constitucional legítima”.

O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, também condenou a situação na Bolívia. “Condenamos veementemente a tentativa de golpe de Estado na Bolívia. Nosso total apoio e apoio ao presidente Luis Alberto Arce Catacora, autêntica autoridade democrática desse povo e país irmão”, disse no X. Os Estados Unidos estão monitorando de perto a situação na Bolívia e pede calma e moderação, disse um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, nesta quarta-feira (26).

 

O que está por trás da tentativa de golpe na Bolívia?

No dia 25 de junho, o comandante do exército, General Zúñiga, foi afastado das suas funções nas Forças Armadas. Ele havia feito um pronunciamento a uma rede de TV dizendo, em tom de ameaça, que, por representar um “braço armado da pátria”, não permitiria qualquer possibilidade de um retorno de Evo Morales à presidência do país nas eleições de 2025.

Os episódios estão em diálogo e articulados. Não por acaso, depois de anunciar a tentativa de golpe, a fala do militar diante dos jornalistas foi a de libertar da prisão os criminosos e políticos de extrema direita Luis Camacho e Jeanine Añez. Todo este enredo aponta o real papel do imperialismo na América Latina. A sanha de poder do golpismo passa por cima da democracia, da Constituição, da vontade popular. Este imperialismo busca se afirmar explicitamente, através da tentativa de golpe militar, mas opera, sobretudo, na esfera econômica.

No caso da Bolívia, o golpe é impulsionado pelo país possuir a maior reserva de lítio no mundo. Aproximadamente 23 milhões de toneladas, concentradas na região de Uyuni. Trata-se de um mineral fundamental nesta etapa do capitalismo, pois serve para a fabricação de baterias de diversos eletrônicos como celular, computador e, inclusive, carros elétricos.

Com a valorização dos produtos provenientes do lítio no mercado internacional, os Estados Unidos tentam controlar a produção para evitar a concorrência de China e Rússia. No entanto, tanto a Rússia (através da empresa Uranium One Group), quanto a China (pelo consórcio CBC) possuem acordos com a Bolívia para executar e ampliar o seu plano de industrialização baseado na extração do lítio. O controle da produção continuará com a Bolívia.

Cabe destacar que a Bolívia é o único país da região em que o lítio é nacionalizado. O processo de nacionalização, assegurado pela Constituição de 2009, é o que garante os recursos para saúde e educação no país. Em 2019, ocorreu um golpe militar na Bolívia e, em 2024, uma tentativa de golpe que também perpassa motivações similares.

O que se pretende é impor, independente de qualquer coisa, uma agenda neoliberal de poder, que hoje ampara projetos políticos que são constituídos por pilares de extrema direita, próprios do fascismo. Esta não é a primeira e não será a última tentativa de golpe na Bolívia. Só o povo organizado e articulado tem condições de garantir o exercício dos governos populares na América Latina.

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