Caro leitor, convido você a se emocionar com histórias reais de superação pessoal. Nesta primeira coluna, contarei um pouco sobre a inspiradora jornada do preparador físico, personal trainer e docente de pós-graduação, Philipe Guerreiro. O apelido Guerreiro veio através da capoeira, praticada aproximadamente 11 anos. Em nível de esporte ele curte jogar futebol e fazer musculação cinco vezes por semana. Além disso, é católico e pregador do evangelho. Philipe nasceu com retinoblastoma e teve o diagnóstico com um ano e nove meses.
A doença pode ser congênita ou aparecer nos primeiros anos de vida. Além disso, pode ter origem genética ou devido a uma mutação de um gene cromossômico. Quando presente nos dois olhos têm um caráter hereditário. O tumor maligno em um ou ambos os olhos acomete a retina. Este tipo de câncer ocular é o mais comum na infância, afetando cerca de 400 crianças todo ano, o que representa de 2,5 a 4% dos tumores infanto juvenis e tem maior frequência entre 2 a 5 anos.
O principal sinal do retinoblastoma é a leucocoria, um reflexo branco aparente quando um feixe de luz artificial ou de um flash atinge a pupila, muito parecido com os vistos nos olhos dos gatos. Quando o retinoblastoma é diagnosticado precocemente, existe uma probabilidade de 90% de chance de cura. No entanto, quando é detectada em estágio de metástase, o prognóstico torna-se mais complicado.
Quando criança, a mãe de Guerreiro percebeu que ele virava o rosto apenas para um dos lados quando chamado, o que levantou a suspeitas de que algo não estava normal. Por meio de fotos foi observado que um dos olhos parecia diferente do outro, o que levou a exames clínicos que diagnosticaram o C.A Câncer Ocular, especificamente o Retinoblastoma.
O diagnóstico
O primeiro médico que cuidou de Guerreiro mencionou que ele teria apenas duas semanas de vida, dada a gravidade da doença e a rápida evolução do câncer. Desesperada, sua mãe decidiu buscar uma segunda opinião médica. Após a segunda avaliação clínica, o prognóstico foi estendido para três meses de vida. No entanto, a fé inabalável de sua mãe, inspirada na crença de que Cristo sempre providenciaria um novo ciclo, trouxe esperança para a situação.
Após essa reviravolta, Guerreiro passou por uma cirurgia de enucleação, que consiste na remoção do globo ocular. Em seguida, iniciou um tratamento intensivo de quimioterapia e radioterapia. Os efeitos colaterais desses tratamentos deixaram marcas profundas na pele e na alma do pequeno guerreiro, que carrega essas cicatrizes até os dias de hoje. Atualmente, ele utiliza um curativo em lugar da possível prótese ocular, devido à rejeição por parte de seu organismo por conta da radioterapia.
Ao longo de sua jornada, Guerreiro passou por 11 cirurgias gerais na tentativa de reconstruir seu rosto e melhorar sua estética facial. Essas cirurgias e tentativas refletem a luta e a determinação de Guerreiro em lidar com as sequelas do câncer ocular e do tratamento agressivo que enfrentou. A jornada de Guerreiro é marcada por desafios físicos e emocionais, mas sua resiliência e coragem permanecem como inspiração para todos ao seu redor
A aceitação
Aos 5 anos de idade, Guerreiro foi internado no hospital devido aos tratamentos que estava recebendo, o que resultava em noites solitárias, uma vez que a instituição não permitia acompanhantes. Sua mãe, preocupada com a fragilidade da saúde de seu filho e incomodada com a situação, teve um momento de intuição espiritual, e decidiu retirá-lo do hospital.
Ao tomar essa decisão confrontada pelo diretor do hospital, que a obrigou a assinar um termo de responsabilidade caso seu filho viesse a falecer em decorrência da sua condição de saúde. Apesar da pressão e das incertezas ela persistiu em sua escolha. Na semana seguinte, durante uma festa de 15 anos, Guerreiro começou a sentir-se melhor, como se nunca tivesse enfrentado problemas de saúde, o que marcou o início de uma transformação em sua jornada.
Atualmente, Guerreiro reflete sobre essa experiência e conclui que, naquele momento, o que ele mais precisava era de amor, e não da abordagem medicamentosa imposta pelo hospital. No entanto, ele ressalta que suas circunstâncias são únicas e que não aconselha a tomada de decisões semelhantes à de sua mãe, pois entende que cada caso é singular.
A partir desse momento, a melhora clínica começou a se estabelecer. Foi estar com pessoas próximas que realmente salvou a vida desse guerreiro. Com o apoio e carinho daqueles ao seu redor ele encontrou força e motivação para continuar lutando e se recuperar. O que para ele, mostrou o poder do cuidado e do afeto no processo de cura e resiliência.
A deficiência
Aos 7 anos, durante a sessão de fotos colegiais, Guerreiro vivenciou um momento doloroso de aceitação de sua deficiência. O fotógrafo insistia para que ele se posicionasse de forma diferente na foto, tornando evidente que não era tão “legal” ser deficiente e diferente dos demais. Ficar de lado, separado dos coleguinhas, fez com que Guerreiro entendesse, naquele dia, que ser deficiente implicava em ser diferente.
Preocupado com essa compreensão, ao retornar para a sala de aula, Guerreiro decidiu rezar e pedir a Deus para arranjar-lhe uma namorada, sentindo-se incompleto e questionando quem se interessaria por um menino com apenas um olho. O bullying chegou acompanhado de apelidos cruéis como “zoinho”, “pirata”, “ceguinho”, “caolho” e outros.
Sem a presença paterna em sua criação e com sua mãe trabalhando em três turnos, a família precisava pegar o ônibus para visitá-la durante os intervalos do trabalho, buscando compartilhar um momento de carinho em meio aos dias agitados. Essa rotina refletia a forma como a família se esforçava para manter os laços afetivos mesmo diante das adversidades enfrentadas por Guerreiro.
A fé
Philipe Guerreiro ingressou nas artes marciais e encontrou na capoeira uma forma de elevar sua autoestima e superar os desafios emocionais. Foi nesse ambiente que ele adotou o apelido de Guerreiro, percebendo que poderia ser mais do que sua deficiência apontava. Ao amadurecer, Philipe se deparou com as portas fechadas do mercado de trabalho devido à sua deficiência. Contudo, ele mantinha uma fé inabalável em Cristo e acreditava que teria forças suficientes para transformar sua jornada.
Carregando consigo a frase “Todo gesto sincero de bondade revela Cristo”, Guerreiro encontrava conforto no amor e na bondade das pessoas ao seu redor, o que o ajudava a superar os momentos difíceis com a certeza de que Cristo o fortalecia para seguir em frente.
Saindo da zona de conforto
Aos 15 anos, ele recebeu um convite inesperado de seu irmão para ir a uma festa. Mesmo sem saber dançar e tendo a convicção de que ninguém o convidara para se divertir por ter apenas um olho, decidiu aceitar o desafio. Apesar de complicado foi mais um passo importante em sua jornada de autoaceitação. Após, para enfrentar suas inseguranças, Guerreiro deu início aos estudos em Educação Física.
Sua trajetória o levou a integrar o corpo docente do Minas Clube como professor de musculação, onde teve a oportunidade de se aproximar de pessoas e quebrar paradigmas. Neste ambiente, encontrou espaço para se expressar e se destacar, demonstrando sua competência e paixão pelo ensino e pela atividade física. Sua dedicação e resiliência contribuíram para que fosse reconhecido e aceito além das limitações, mostrando que sua deficiência não o definia.
Descoberta
No encontro de jovens onde compartilhavam histórias de superação, Guerreiro compreendeu que sua própria deficiência era insignificante em comparação com as lutas enfrentadas por outros. Foi nesse ambiente que ele experimentou pela primeira vez a liberdade de falar sobre sua fé em Deus, um momento que o libertou interiormente e o conectou a uma força divina maior.
Sentindo a presença de Cristo de forma cada vez mais intensa, Philipe orava para que Ele purificasse suas falhas e preenchesse sua vida com amor, o que renovou sua mente e curou as feridas da desigualdade que havia enfrentado no passado. Ao começar a compartilhar a mensagem de Deus sua vida ganhou um novo significado. Atualmente, aos 35 anos, é casado e conhecido como Professor Guerreiro, propagando a palavra de Cristo com fervor e amor.
Guerreiro expressa: “Sinto-me um rapaz comum, curado e normal. Jogo futebol, escuto minhas músicas, tomo minha cervejinha com os amigos, e não abro mão do amor por Cristo, pois é ele quem dá sentido à minha vida e me inspira a compartilhar Sua mensagem com o mundo”. Por meio de suas palavras e ações, Guerreiro transmite mensagens de amor, autoaceitação e fé, lembrando a todos que o essencial muitas vezes é invisível aos olhos. Com seu lema “Ame-se, você é a sua própria história”, Guerreiro inspira a mudança e a salvação das vidas por meio do amor.
Vale destacar que o prazo de vida que lhe foi dado inicialmente de apenas 3 meses e 2 semanas coincidiu com o prazo da fé que o salvou. A mãe de Guerreiro escolheu seguir o caminho de Cristo nesse período, decisão que não só lhe trouxe salvação, mas também o maior amor de sua vida, seu filho.