A Prefeitura de Laguna apresentou, na terça-feira (15), na Câmara de Vereadores, um balanço dos 100 primeiros dias da nova gestão municipal, liderada pelo prefeito Preto Crippa. O evento serviu para expor o cenário “caótico” encontrado no início do ano, detalhar os avanços tímidos alcançados até o momento e anunciar metas ambiciosas para os próximos períodos da administração.
Em um tom carregado de críticas à gestão que o antecedeu, o prefeito Crippa não poupou detalhes ao descrever as dificuldades iniciais. “Encontramos um verdadeiro ‘campo minado’ de irregularidades”, disparou o chefe do executivo, citando o protocolo de denúncias no Ministério Público, a identificação de REURBs irregulares, a falta de regulamentação em parquinhos, alvarás supostamente falsificados e contratos considerados “mal elaborados”. A necessidade de “rever processos”, abrir licitação para uma nova empresa de contabilidade e lidar com as “limitações herdadas” foram os principais obstáculos apontados.

Apesar do discurso contundente sobre o passado, os avanços concretos nos primeiros 100 dias parecem ainda incipientes. A gestão municipal celebrou o “andamento” de metas na área da saúde, com o anúncio da reforma de 11 unidades, incluindo a Policlínica. Na educação, a promessa de valorização da educação especial e a reforma de todas as unidades escolares soam como intenções futuras, sem um cronograma detalhado ou indicadores de progresso claros.
Novos contratos e licitações para melhorias em serviços essenciais como iluminação pública, coleta de lixo e limpeza urbana também foram mencionados, levantando a questão sobre o estado precário em que esses serviços se encontravam no início da gestão. A população lagunense aguarda ansiosamente para sentir no dia a dia a efetividade dessas novas iniciativas.
A integração entre secretarias e fundações, apontada como uma prioridade por Crippa, é uma medida administrativa básica que deveria ser inerente a qualquer gestão eficiente. Resta saber se essa “conexão mais efetiva” se traduzirá em resultados tangíveis para a população.

Na área de cultura e turismo, a “retomada da busca por recursos e investimentos” sugere um período de inércia ou negligência na gestão anterior. O destaque para a pavimentação dos Molhes da Barra, com apoio estadual, é um ponto positivo, mas levanta o questionamento sobre a capacidade da administração municipal de viabilizar projetos significativos com recursos próprios.
A reorganização da Secretaria de Planejamento Urbano (SEPLAN) e o encaminhamento de metade dos 2 mil processos parados revelam a lentidão burocrática herdada. Embora o esforço em “destravar a máquina pública” seja louvável, a existência de um volume tão grande de pendências suscita dúvidas sobre a eficiência da gestão anterior e a capacidade da atual de acelerar o ritmo.
A promessa de estruturar tecnicamente e tecnologicamente a Defesa Civil é crucial para um município vulnerável a eventos climáticos. No entanto, o anúncio soa mais como um reconhecimento de uma carência preexistente do que como uma ação já implementada.
A tão aguardada reforma administrativa, ainda em fase de comissão para definir diretrizes, é uma promessa que gera expectativa, especialmente no que diz respeito ao concurso público e à valorização dos servidores. A intenção de “atender as demandas do sindicato” e “reduzir em um terço os custos com cargos comissionados” até o final da gestão são metas ambiciosas que precisarão ser acompanhadas de perto pela população e pelos órgãos de controle. A alegação de que o combate à corrupção impactará a folha de pagamento é uma admissão indireta de possíveis irregularidades na gestão anterior.
O anúncio da criação da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação e a visita do CEO da empresa EIKTO sinalizam uma busca por novos horizontes para o município. No entanto, a consolidação do parque industrial e a “missão para a China em busca de investimentos” ainda são projetos em andamento, sem garantias concretas de sucesso a curto prazo.
O vice-prefeito Leandro Bento reconheceu as “grandes dificuldades” encontradas, mas reiterou o compromisso de “colocar a cidade no prumo”. Já a presidente da Câmara de Vereadores, Tanara Cidade de Souza, manifestou apoio às iniciativas do executivo, ressaltando um “propósito em comum” com a gestão.
Em suma, os 100 primeiros dias da gestão Preto Crippa em Laguna foram marcados por um diagnóstico severo da situação encontrada, promessas de mudanças significativas e avanços ainda modestos em áreas cruciais. A população aguarda que as críticas contundentes à gestão anterior se traduzam em ações efetivas e resultados concretos que melhorem a qualidade de vida no município nos próximos meses e anos. A retórica precisa agora dar lugar a entregas tangíveis para que a “nova cara” da gestão municipal se materialize em benefícios reais para Laguna.
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